Amores e desamores.

   Como num quotidiano alterado, quebrado. Numa rotina desalinhada e deformada.
   Duas almas corroídas e destruídas. Como duas almas consumidas pelo roubo da felicidade.
   A crueldade do silêncio sem lado a escolher e da mágoa do passado.
   Como um sofrimento construído sem ligar ao papel desenhado, ao projecto traçado.
   Dois olhares penetrados sons murmurados em códigos estimulados.
   Conversas alagadas e socos encaixados entre um saber de um medo no meio sem nada a ver, sem nada a fazer.
   Duas pedras estilhaçadas num vidro de quatro pontas, ideias sem contas.
   Em que dois de um ser só está a apodrecer em que já não aguenta o poder ser e que rebenta o não querer.
   De dois desejos do ter e a impotência. A falta de essência. Numa felicidade partilhada ou numa cabeça á cabeçada.
   Entre um passado inacabado e um passado ultrapassado. Entre uma história terminada e uma página virada.
   Entre um não saber o que dizer e um não saber como contradizer.
   Dois olhares desviados, caminhos intercalados.
   Fins sem confins.
A pele fica nua e o frio ataca, fala-se do passado através de janelas, o sol ja nao aquece, arrefece, o cabelo apodrece, torna-se loiro e de palha, relembram-se os conceitos, fala-se de chuva e do sol, do sul e do norte, volta-se á origem e deixam-se as regras, vêem as crenças, vêm o respeito falsificado, vêem as vozes da história. Roda-se o corpo num eixo e os braços esticados e levantados acompanham a viravolta e reviravolta. Vêem os nomes gravados na pedra, vem a procura e o olhar em volta, vêem as teorias e as ciências, vêem os génios, vêem os relatos e os cúmplices, vêem as aparências, deixam-se os ideias, caminhamos todos, quase todos para o conhecimento, cativa-nos, enfeitiça-nos. Vem tudo e todos, mas o amor ficou, não é hoje ainda. Vêem os ensinamentos, mas os dentes doem, entortam-se , sou eu na minha revolta, é o meu corpo a tentar falar comigo. Tento encolher. vêem as memórias de experiências vividas, vêem as duvidas sobre elas. Surgem as coisas, muda-se os temas, transforma-se no rigor. Vem a dormência,  o cansaço, o corpo já não é o que era, já nao responde ao que peço, dói, aleija-se com tudo, mostra-se o caos, mas a ordem prevalece fascinante, cativam-te. Envergonha-se almas confundidas e perdidas. Volta a ordem junto ao caos, abraçam-se. Distracção , apenas distracção, é cativante mas já estamos demasiado cansados e moribundos para a atenção, o corpo pode um sono profundo, o corpo deseja hibernar, como ursos num inverno rigoroso, a pele ganha relevo. O mundo pára.
Chega deste dia, de mais um dia de devaneios, chega deste dia. Parei, parar é morrer, morri. Mas não aceito o fim, apenas sonho com o inicio. O céu cai na terra e nós, no meio, sentimos a pressão como uma brisa suave que nos faz festas no rosto, de olhos fechados, no rosto amargurado, e lhe esboça um sorriso sem motivo. Porque uma história basta ter palavras vividas, basta ter o aperto no coração.A determinação mantém-se bem activa no pensamento mas a ação morre e dá lugar á desilusão. Oh palavras gastas - calem-se por favor!
Não pares de pensar, não tapas os olhos ao mundo, luta por ele. E aqui estou eu. Anseio por ele. Que se lixe, é ridiculo, e não vou por ai, não! A mim não me levas nessa, não me metes chips nem comandas o meu coração. Acredita: ele tem força para a revolução.
Cada vez estou mais longe do Homem que sabe . Encontro-me, perco-me. Oiço-me, volto a estar surda. Porque não morres amargura? Vai, vai com os desamores que és feita. Porque não começar a olhar para o que está atrás, para o fundo do que se vê, há um mundo por trás do nosso. São promenores, simples promenores e cada promenor trás uma vida e uma historia com ele. Basta olhar nos olhos, tanto faz quais. Há um mundo cá dentro. Falta saber onde e não sei, não sei onde está o branco em mim, mas este é o preto que o mancha. Esta é a vontade de fechar o casaco, apertar os sapatos e correr por aqui e por ali. Esta é a vontade de fazer o que o coração manda, segui-la. E esta é a vontade de branco, este é o branco de mim.
Apenas vazio, vão, oco .
Comemos nos vivos. O Amor próprio morreu, somos sombras e a natureza aprova, cospe-nos na cara e sorri cínica. Molha-nos e queima-nos. Abusamos dela e ela ri de nós.
Comemos nos vivos. O Amor próprio morreu. Até que ponto vamos? A que ponto chegamos? Somos sombras, somos lama na cara, somos feridas profundas. Nascemos e morremos, mas os sonhos eternos prevalecem. Somos montanhas de cabeça confusa. Somos a nossa própria desgraça. A vida é por um fio e nós vivemos como peixes que voam. Morremos sem ar porque somos todos iguais, porque somos todos mortais.
Sonhamos sem razão, corremos para a destruição. Somos os reis do mundo, os reis da nossa morte. Somos galinhas emproadas, mas o Amor próprio morreu. Porque somos todos diferentes, todos com os seus momentos. Abusamos da natureza e ela ri de nós.
Somos nós repteis de sangue frio, e eles de sangue quente. Somos monstro desdentados, olhares penetrados. Somos determinação e desilusão. Tomamos consciência de nós, da nossa sombra. Porque somos iguais.

E no final imploramos ao mundo, que por um segundo, não nos leve para um profundo...
O sol está quente. E nos andamos, moribundos de queixo caído, costas curvadas e braços pendurados. Os passos são lentos e os pés não saem do chão. A alma rasteja e os dias são cada vez mais pequenos.
Desistimos e escondemos a vergonha porque o medo ataca cada vez que alguém começa a sorrir. Depois sonhamos e, determinados, voltamos á luta... Os dias são cada vez mais pequenos, o estômago vazio e o coração cheio. As emoções descontrolam-se e nós fugimos. Estamos aqui e ali, dançamos á chuva e choramos enquanto a cidade dorme. Enquanto o mundo dorme, e eu, e tu, vagueias pelas ruas num sonambulismo bem acordado.
Somos imortais, sabemos o futuro e sonhamos e desesperamos. Os sons ouvem-se a fugir junto ao chão o vento fala. A rotina cansa, e a força para muda-la escasseia. A água queima e o fogo arrefece, a realidade é distorcida  a realidade é ficção. Magoa-nos, sorri.
As montanhas vêem-se no horizonte, as preces são ouvidas, e como num murmúrio ouvem-se as almas cantar os sonhos, e vêem-se as formigas dançar aqui e agora. Vêem-se os que não pensam lutarem pelo passado e eu, e tu, sentados à beira do mundo tomando café, olhamos para o espectáculo de fantoches enquanto calmamente sinto a tua voz dizer-me - Vai correr tudo bem.
 A revolta continua, corto os cabelos, rasgo os pulsos. Calem este murmúrio; enlouquece ainda mais. Chega de frases feitas: façam-se ouvir. A voz entala-me outra vez. Chega deste circulo vicioso, chega de metáforas ocultas. As vozes continuam num murmúrio e ninguém dá a cara, murmúrios especulados, dizem-se adeus. Estão em roda, meia lua talvez, baralham-nos. Confusos os olhos rodam em torno da sala, fria e quente, branca luminosa, deprimente. O vento entra pela porta e fazem os meus cabelos voar. Dita-se conhecimento, falasse de poesia, orgulho-me, apenas o ouvirei desta vez, então esforço-me, mas a raiva bloqueia-me o cérebro e fico ignorante. Na rua as árvores estão mais direitas do que eu, que me curvo corcunda e descendo cada vez mais numa pose moribunda, de mãos na cara, ensopo-as, agora mãos molhadas, não desistem de me esconder o rosto triste. Não é vergonha, é uma tentativa de mistério ou de me esconder e fugir desta realidade apavorada. "Naturalmente temporizada" dizem eles. Mas cansada deste tempo estou eu, porque ele já deixou de ser natural, agora é negro e maldoso. Cínico, e amanhã é a total palhaçada, soltam-se gargalhadas inconscientes mas nunca desejadas. O circulo vicioso continua, roda à minha frente num eixo simétrico. O frio e o vento continuam a entrar pela porta, tiram-se à sorte as historias e eles continuam a falar e eu leio as suas palavras gritadas, "recitar poemas é coisa que não se pode admitir em cafés", calhou-me a mim, e eu perco-me, baralho-me outra vez.
A raiva aperta, vira tormento. A pele murcha, os olhos fecham-se, os lábios mordem-se.
Chega de olhar tanto ódio no mundo. A necessidade grita, a cidade sufoca-me.
Não pertenço aqui. Sitio errado, sentimento descontrolado.
Não,  eu não sou mais assim.
Os cabelos escorregam entre os dedos, as minhas mãos apertam a cabeça e tapam os ouvidos.
 Chega, chega, chega.
O coração bate a mil, o pensamento perde-se, o desejo agarra-se a ti, a ignorante saudade agora é sem fim.
Chove, torveja. É a ira a falar por mim.
Do mais profundo interior.
Estou a ouvir, estou a ouvir o teu ego. é demasiado alto, passa por cima do meu , espezinha-o bem.
Destrói , destrói a minha alma. Destrói, destrói a tua alma. Só resta pó, o meu pó o nosso pó. Não sou capaz, não sei se sou capaz. não sei se és capaz. Roubas-te, roubaste-me o amor e deste-me a dor, a minha dor, a nossa dor. E agora, agora és o quê? o salvador dos tempos ou um simples destruidor da minha vida. Deste-me, deste-me o medo, ele veio agarrado à esperança. A esperança, a esperança de te ter, de nos ter, de nos ver sorrir. E chega, a esperança chega a sorrir, mas depois, depois chora. Faz um rio, faz um mar, e tu, e tu fazes uma linda caravela, caravela descobridora, e descobres, descobres os meus olhos. E entras, entras na minha alma, na alma de pó, alma que destruiste. E tentas, tentas repara-la, com o meu amor, com o nosso amor, amor roubado. Mas não consegues, então baixas, baixas o teu ego e fica, fica igual ao meu. E das-me, das-me o teu amor. Mas a dor, a minha dor, a tua dor, a nossa dor, a dor nunca desaparece. Então sonhas, sonhas com o futuro, e com os nossos ideais. Ideias sorridentes, ideais de vidas contentes. E lutas, lutas por eles, lutas por um ideal infinito, o teu ideal, o nosso ideal.
Tenho o grito dentro de mim, tudo se repete. Um sorriso tímido e sonhador nos lábios, uma lágrima no canto do olho, tudo se repete. Sopro-te um beijo, cai numa folha. Chove e estou molhada, tudo se repete. É diferente mas tudo se repete. Racha-se o coração aos poucos, troveja e tudo se repete. Corro entre as pingas, caio nas poças, tudo se repete. Chamas-me com o olhar e dizes-me adeus, sorrio ao desgosto e tudo se repete. Deito-me na estrada, outra folha cai. Deixo o tempo voar e tudo se repete. Levanto-me, grito de saudades tuas, abraças-me e já nada se repete.
estou no ponto intermitente entra a esquina e a curva. resumidamente estou completamente .. nada, não estou nada. Já não tenho lugar, nem cá nem lá. estou no meio mas nem no meio estou! Que o tempo passe depressa, que o tempo passe mesmo depressa, ou se calhar que o tempo passe devagar mesmo muito devagar, como se tivesse parado, por favor. E quando o tempo andar devagar quase sem andar, eu vou passar por entre as gotas de chuva, e os intervalos entre a brisa e o vendaval, e assim vou ter um lugar, um lugar nos espaços vazios entre o tudo e o nada, um lugar no impossível no futuro e no passado, um lugar sem lugar. Sou eu, assim como eu, alguém... sem ser nada.

Sou uma ilha, sou pedra fria da calçada que tu cospes em cima e espezinhas com os teus pés pesados sempre que me olhas. Sou ego no fundo, esperança perdida. Perdida como eu que vaguei-o e corro há procura de mim. Estou na curva, no cruzamento, no purgatório da decisão. E tu ansioso, enroscas as mãos, tremes as pernas, reviras os olhos, escondes-te de mim. A decisão está tomada, vou seguir caminho e meter-te no álbum de fotografias. Falta a direcção, a coragem. Tenho medo, ajuda-me a sair daqui, estou outra vez naquela rua sem saída, a lua vai alta e o candeeiro ferrugento há entrada do beco pisca como de costume. Treme-me a alma de terror. Continuo sem saber o que fazer. A luz fundiu-se de vez, e o meu coração vomita um batido de amor e raiva. E agora, não sei do fim desta revolta.
Tudo vai mudar, não penses que vou ficar parada a olhar para ti enquanto cada vez estás mais entalada no fundo do abismo. dá tempo ao tempo, não é fácil e depois já não podes voltar atrás porque não é fácil e não se consegue de um dia para o outro. Mas está quase, eu vou mudar, vou ter força.
Vou levantar-me cedo, dar os bons dias ao sol, vestir-me e correr o mundo, depois vou dar as boas noites á Lua e contempla-la ao som do mar.
Já está quase, mas dá tempo ao tempo, agora está difícil levantar-me mas eu vou conseguir, é uma questão de força.
Vou seguir caminho em busca das cores do mundo, porque agora tudo é cinzento, são as flores, é o mar, é o céu, é o mundo. É a cor da minha alma.
E os meus sentimentos, que agora estão todos baralhados e nem consigo distinguir a alegria da tristeza vão passar a surgir nos momentos certos, e então vou-me sentir viva e vou saber que estou a viver.
Apenas ao que me realiza verdadeiramente, vou deixar tudo para trás e seguir apenas os meus sonhos e o que realmente me faz feliz.
A revolução já começou dentro de mim, já há protestos por todo o lado e pequenos eus aglomerados em manifestações dentro de mim, cheios de cartazes com frases de protesto. Estão irrequietos e não consigo ler muito bem o que lá diz. De todos os que percebi chamou-me há razão um pequeno cartaz feito numa folha de cartolina preta com umas letras brancas muito bem desenhadas, dizia algo como " Ninguém pode viver por ti, está na hora da mudança " e em volta desse estavam mais outros mil cartazes com frases idênticas.
Faziam-se debates sobre o que eu ia fazer, e procuravam-se soluções para sair deste abismo em que toda eu me encontro.
Fiquei quieta, a observar toda aquela natureza dentro de mim, onde tudo estava de pernas para o ar, não havia o equilíbrio necessário. Os ciclos estavam todos errados e não havia as sequências correctas.
O bem não vinha a seguir ao mal, nem o mal vinha a seguir ao bem. A tristeza não vinha a seguir á felicidade nem a felicidade a seguir á tristeza. Estava tudo trocado.
Ainda imóvel, olhava todos aqueles pequenos exemplos de mim, as expressões delas variavam muito mas eram todas idênticas, umas mostravam rancor, outras determinação, saudade, angustia, raiva, medo, outras ainda mostravam uma expressão mas confusa, e tudo se expressava dentro desta linha de emoções.
O meu pensamento já ia a mil, e já navegava num mar de lágrimas á umas horas, estava presa em mim e presa em tudo e não me conseguia soltar, os nós que tinham dado nas cordas que me prendiam era de uma profissionalidade e força que está a ser-me muito difícil soltar-me deles, era como se me tivessem posto na forca de cara tapada, mas completamente ciente da realidade.
Continuo a mexer-me agressivamente, procurando qualquer maneira de me libertar daquelas cordas e daqueles nós. Apenas quando o conseguir poderei seguir caminho em busca dos sonhos e do Amor.
coração de papel, todo enxovalhado. Deixa-te disso e abre os olhos há vida, tu não nasceste para ser um origami sem cor nem amor, pára de te abandalhar e rasga-te pinta-te corta-te ou faz o que for preciso, mas segue a tua estrada sem melhores paredes do que o horizonte, nem melhor tecto para um sonho inacabado do que um céu estrelado. Não queiras mudar o mundo, muda-te antes a ti, és todo feito de papel dos pés à cabeça, és todo sonhos, és todo ansiedade vontade e saudade, és todo ego, és todo nada. És todo vazio.
e o abraço que me prometes-te, não vou esperar por ti. O tempo é todo como ouro para mim. Olha, sorri é uma fotografia de mais um momento em branco da minha suposta vida. só para a recordação: não a minha.
transforma-te em avião coração de papel, ou em barco que o vento está fraco. Vais ver que um dia a cor chega, e o teu vermelho vivo que devia bater a mil deixa de estar encrostado às raízes que criaste ao chão. Agora diz-me, o quê não interessa, mas eu também sou toda ouvidos. E como já não sei quem és tu, e está difícil encontrar o branco em mim e as estrelas ainda estão por cima de mim.. não há problema da minha parte.
Sempre que fecho os olhos o meu coração aperta-se com vontade de explodir. Tenho um grande mundo de ilusão à minha espera, mas enquanto isso não consigo sair de dentro de mim. Perdi a chave da minha vida enquanto tentava sair da tua, e agora continuo mendiga das almas pedindo esmolas de amor, e um coração grande e honesto para murar. Preciso de um pouco de força para continuar, apenas um pouco, não peço muito. Não tenho horizonte, só vontade e medo de chegar ao fim. Ainda tenho esperanças, mas essas morrem sempre que sinto o teu olhar apaixonado que me congela e me enche de rancor. Quero liberdade para tentar ser livre, quero conhecer aquilo que nunca quis conhecer e deixar de ser uma alma escondida num corpo envergonhado por não sentir aquilo que dizem ser certo.
Tenho medo, e vários arrepios percorrem-me o corpo friamente. Nunca quis tanto esconder-me por uns minutos e deixar de ser eu (não?). Faz quarenta graus na rua e a minha pele suada por fora e gelado por dentro geme de angustia. O meu coração bate a mil e parece ansioso. Não, diz-me que isto é apenas passageiro. Tenho saudades de amar, de poder gritar fortemente que estou viva. Pelo quê que eu quero lutar afinal? Há algo ainda? Há sempre. Estou confusa eu sei. Mais uma vez, para não sair da rotina. Apetece-me chorar. Estou frustrada, o meu corpo é uma orgia de emoções. Não sei falar (não consigo, mais especificamente) tenho um nó na garganta que me prende a voz e não consigo engoli-lo nem vomita-lo. Estou farta disto, já nem as horas estão certas. O fundo do abismo, acho que é lá que eu estou. Mas não, não posso estar, porque eu sou forte (és?). Tenho o estômago cheio de ar, e a cabeça de água. Vejo tudo á roda e expludo sentimentos. Quero gritar! De quê este meu medo? A voz não sai, continua na mesma. E eu desespero. Porque caminhamos todos para a mesma luz se ela nos leva ao fim!? Não aguento,  çágrimas não chegam para  que me saia esta raiva, e o grito não sai e eu não paro de agitar-me neste colete de forças branco sem alma, preciso de voltar a amar e viver na ignorância.
Não sei, não sei se é disso que preciso, mas tenho saudades…

A casa está vazia, e as paredes são mudas. Ouve-se ao longe o ecoar da minha respiração ofegante, os meus olhos estão cansados e todo o meu corpo luta para mantê-los abertos. O vento do ar-condicionado gela-me a pele e queima-me a alma. O sol nasceu, e os pássaros cantam agora na rua. A minha boca não sorri e os meus dentes batem uns nos outros num ritmo constante. Os meus dedos enrugados e sem idade levam as páginas das lições do abismo de um lado para o outro, enquanto apressadamente a minha consciência percorre as palavras há procura de paz. O sol desfez-me o corpo em cinzas e a chuva levo-as para o mar. Agora vivo lá, e tudo me parece menos sombrio que na Terra. É como um paraíso, e o cinzento virou cores. Estou morta, e morta de mais para morrer.
Estou mais viva do que nunca. O meu corpo é feito de raiva e transbordo ódio pelos olhos. O meu sorriso é frio e distante e eu sou preta por dentro. A minha aura esta às cores e é um autentico arco íris de emoções, sem o pote de ouro no fim nem o duende irritante aos saltos. O meu cabelo está em pé e diz que agora é de vez. A minha cabeça abana de um lado para o outro como um 'não' constante mantendo-se inerte num pensamento sem conduta. O meu nariz respira fumegante. A minha boca diz que o tempo esta a esgotar-se.


Não é um talento é um sentimento, que se solta por palavras e escorre em lágrimas. É tristeza em forma de carvão e raiva em tinta, são sentimentos que vão  manchando o branco de uma vida com linhas. O desejo do verde e do azul, a necessidade do puro e natural. Vivo num mundo de plástico onde o saber viver é exemplo extinguido. São sentimentos que se juntam ao meu sangue, e andam por todo o meu corpo percorrendo-me as veias e artérias. São vidas que já fazem parte de mim, mesmo que eu não queira nada assim. Onde não é rara a ingenuidade das pessoas, onde os revolucionários são olhados como excêntricos e idiotas. Onde aos que sentem ouvem e vêem é-lhes tirada a liberdade. Não foi aqui que eu quis nascer, não foi este o mundo e o tempo que eu escolhi. Não é uma vida, são momentos de uma tentativa falhada de viver.
Canta-me a nossa canção...

Numa noite perdida
onde o vagabundo é o rei da multidão.
No som do vazio onde as musicas
nao passam de uma ilusão.
Nas amizades unidas
apenas por uma mão.


Tocaste-me?
Senti
Eras tu?
Sorri.
Salvaste-me?
Amei
Agarraste-me
Voei
estou a sentir, sabe tão bem mas não consigo ouvir não oiço a tua voz. estou perdida. sentada num telhado olho o rio e sinto, sinto o vento a bater-me na cara e a sacudir-me os cabelos, sinto o frio a entrar-me pela pele e as lágrimas, as lágrimas começam a tentar sair. Em baixo vêem-se as pessoas a sorrir e outras apenas. e eu, eu estou no telhado, eu estou no telhado sentindo o vento e esperando, apenas esperando. Começa a chover, e eu começo a chorar, tudo se mistura na minha cara e eu, eu continuo perdida, perdida e sentado no telhado, sentido o vento sentindo a chuva a molhar-me. Já não me sinto, apenas sinto o vento que continua sacudindo os meus cabelos (os meus cabelos molhados), apenas sinto a chuva. As pessoas foram embora, agora a rua está vazia, apenas estou eu no telhado, eu que respiro, choro, sinto e espero. Tu chegas-te. abraçaste-me e disseste-me ao ouvido no teu tom mais doce "vamos para dentro."

ainda sorriu, ainda choro, ainda espero, mas agora não desespero.